O Regresso a Casa (1964) é uma bela peça teatral de Harold Pinter, Nobel da Literatura em 2005. A sua representação inicial na Broadway ganhou um Tony Award para melhor peça em 1967 e é considerada por alguns críticos como a sua obra-prima. Não posso opinar sobre isso pois não li/vi as restantes. Gostei bastante mas achei que havia um exagero de linguagem nesta versão italiana. E pelo que vejo na net, comparando as passagens mais "picantes", a versão original não é tão vulgar como esta interpretação italiana que vi. Por mim tudo bem, mas é preciso ver o local e o público. Em Génova, há uma série de teatros, uns mais virados para a juventude, outros mais gerais, outros mais elitistas. E neste caso, estávamos no 2º teatro em termos de qualidade das peças. A programação é comum entre o 1º e o 2º e inclui Shakespeare, Moliere, Pinter, Pirandello e outros autores renomeados. Ora, normalmente isso implica também um certo tipo de público. No caso do 1º teatro, muitas vezes há visitas de estudo à sexta à noite e são às dezenas os alunos do secundário que estão presentes. Neste caso, não estavam presentes nenhuns estudantes do secundário (pelo menos em visita organizada). Pelo contrário, muito do público presente tinha em média mais 40 anos que eu (e alguns sairam durante a peça). Ora, terão ficado chocadíssimos pois a linguagem usada era realmente de muito baixo nível. Compreendo que quando se tratam certos temas, há uma linguagem a ser usada que é necessariamente mais forte mas quando se exagera na linguagem entra-se no populismo e no querer atrair polémica/publicidade através do que se diz. Uma obra de Pinter não precisa disto claramente. Basta ver a versão original do texto para perceber que a tradução foi exagerada. Quando disse isto a uma assistente de cenografia que conheço, a resposta foi tu és um burguês (o que me valeu também perder a oportunidade do after-party com os actores). E foi-me também dito: "nós fazemos teatro porque gostamos, não para agradar ao público", atitude muito estereotipada. Eu contrabalancei que se o público fica escandalizado e não volta, deixa de haver público e logo deixa de haver teatro pela falta de fundos mas a discussão ficou adiada para mais tarde.
A outra maravilha foi o aperitivo pré-teatro. O local é ultra-moderno e chic (e isso não significa que seja bom) e chama-se Il Guscio. Para jantar é caro e a comida não vale a pena o preço que se paga. Para aperitivo é mais ou menos. Isto é, a relação qualidade-preço é boa, mas a relação qualidade-quantidade-diversidade já não. Isso significa que a comida que há é boa mas não há muita diversidade neste buffet e também não é em muita quantidade. Já o vinho é muito bom. A escolha recaiu num Brunello di Montalcino, um dos melhores vinhos italianos e o primeiro a receber a designação DOCG (além de DOC, G de Garantida), que distingue os melhores vinhos italianos. Correspondeu às expectativas, este exemplar da marca Ventolaio, do ano de 2005. Podem encontrar uma descrição deste vinho aqui (em pdf).
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