A pedido de várias famílias, começo hoje um blog sobre a vida quotidiana em Itália, principalmente sobre os melhores (gastronomia, enologia, calcio) e piores (burocracia) aspectos deste país. O nome diz tudo, Italianices. O endereço também: eatalianices, por um lado por indisponibilidade do homónimo do nome, por outro porque eat será uma das acções que se vai falar aqui (e até se lê da mesma forma e tudo!). E começo já com a gastronomia. Ontem, após a minha chegada a Itália experimentei um prato que muitos de vós conhecem mas não nesta versão. Spaghetti alla carbonara mas em vez de usar pancetta (bacon) foi usado Guanciale (bochecha) à boa maneira romana. Confere um sabor melhor à pasta mas acaba por ser muito mais gordurosa. Dado que tinha acabado de chegar de Portugal, o jantar foi também meio português. Salpicão de Seia para entrada e um Late Bottled Vintage de 2004 da Taylor's a acompanhar a sobremesa.
Hoje, andei pela cidade e parecia deserta. Mesmo no centro de investigação em que trabalho está tudo de férias já que amanhã é feriado e as pessoas aproveitaram para meter ponte (eu próprio poderia só recomeçar 2ªf). Nas ruas notava-se algum movimento mas amanhã intensificar-se-á já que os saldos só começam amanhã. Mas.. nas livrarias já há bons descontos e mesmo os preços base o que significa que encontrei de novo uma série de clássicos abaixo dos 5€. Mas não é só, mesmo no caso do prémio Nobel da Literatura deste ano (Vargas Llosa), o preço dos livros não subiu devido à especulação. Com outros autores contemporâneos de renome (alguns com Nobel), acontece uma situação semelhante. Conclusão: livraria cheia, grandes filas para pagar. Na livraria em que acabei por encontrar o livro que queria, a Mondadori, detida pela família Berlusconi, reparei em algo estranho. Vendiam-se óculos para ler sem receita médica. 9.90€, experimente na hora, escolha a côr e leve (tinha no entanto as dioptrias impressas). Não sei se é uma forma de tornar os eleitores cegos :)
Falta o calcio e a burocracia. Sobre a burocracia, tenho boas novidades. Ontem entrou em vigor uma lei mais soft para o uso de redes wireless públicas. Anteriormente, era necessário um registo que incluía os dados do BI. Agora, a situação é mais livre, mantendo-se ainda algumas restrições am alguns casos.
Por fim, se leram bem, só vou trabalhar efectivamente 2ªf e ainda não há muito para fazer nesta cidade por isso podem questionar-se porque vim já ontem para Génova. A resposta é o 4ª vector deste blog: calcio. Sim, a verdade é que amanhã há jogo Genoa-Lazio e eu só vim ontem para poder usufruir do meu lugar cativo no estádio :) Aqui há que fazer um parêntesis. Uma das razões que me leva a ir ao estádio é por exemplo o facto de a assistência média rondar as 23 mil pessoas. E não se pense que há jogos com pouca gente. Na fase pior do Genoa este ano, isto é, a uma 4ªf, depois de 2 derrotas consecutivas e do treinador ter sido trocado na 2ªf anterior em 14º lugar e a jogar contra o penúltimo, estavam quase 22 mil pessoas no estádio. Isso ajuda muito pois a perspectiva do adepto é completamente diferente. O apoio é incondicional. Recordo-me que no ano passado, o Inter de Mourinho veio cá a Génova ganhar por 5-0. Os adeptos ficaram até ao fim e cantaram todo o jogo. Mourinho elogiou a atitude aqui "loro tifosi: spetacolari" (adeptos deles: espetaculares) Vi adeptos a chorarem aos 4-0, dizerem que não aguentavam e ir-se embora mais cedo. A esses, os outros cantavam a Guantanamera com versos insultuosos por abandonarem o clube mais cedo. No fim, cantou-se o hino e os jogadores vieram agradecer e pedir desculpa pela derrota. No Youtube estão muitos testemunhos deste apoio incondicional, este é um deles (desse jogo). Estamos a falar do clube mais antigo de Itália (fundado em 1893) e que trata bem os seus ex-jogadores. Este ano, Milito (a jogar agora no Inter) veio cá e antes do jogo começar, nos ecrãs gigantes do estádio, passou um vídeo com os melhores golos dele ao serviço do Genoa acabando com Grazie Diego. No fim disso, todo o estádio gritou pelo seu nome. Ele próprio escreveu uma carta aos adeptos quando saiu. Recentemente, fui ver o Genoa-Napoli. São dois clubes irmãos (uma faixa dizia "além da partida, irmãos para a vida" pois nos anos 80, o Genoa estava para descer de divisão e o público napolitano puxava pelo Genoa. Quando o Genoa marcou o golo do empate (contra o Napoli), os adeptos do Napoli festejaram, pois gostavam que o Genoa se mantivesse (e fosse o Milan a descer). Desde aí, são amigos e as claques respeitam-se, cumprimentam-se e pasme-se! misturam-se na mesma bancada sem problemas nenhuns. Neste jogo recente que vi, ambas as claques gritaram pelo clube adversário no início. Durante o jogo, as duas claques cantaram a mesma canção (contra a Sampdoria). No fim do jogo e já depois dos jogadores terem vindo agradecer o apoio dos tifosi genoanos, os adeptos do Napoli, não obstante a sua vitória, gritaram pelo Genoa, gesto que foi aplaudido pelos genoanos. É por isto que vou ao estádio. E já me estiquei muito por isso termino já. Espero que gostem do blog.
PS: Este post foi escrito em desacordo do Novo Acordo Ortográfico. Se repararem nalgum erro (mesmo da escrita antes Acordo) por favor digam-me. É que o facto de falar italiano constantemente leva-me já a algumas indecisões e falhas na escrita em português. Foi escrito também sem estrangeirismos como blogue porque não gosto.
No comments:
Post a Comment